“Os olhos são o espelho da alma.” Acredita-se que os olhos não mentem. Eles revelam o nosso coração, os nossos sonhos, as nossas paixões, os nossos ‘deuses’... Os olhos falam. E como falam! São também motivo de inspiração dos poetas. Como observou Mário Quintana: “Quem não compreende um olhar, tão pouco compreenderá uma longa explicação”.
O segredo dos seus olhos ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Na época o filme ficou meio esquecido, devido às discussões em torno do melhor filme e do irritante ‘azul’ de Avatar. Nem se quer foi lançado nos cinemas de algumas cidades (é o caso de Natal). Do diretor argentino Juan José Campanella, o filme conta a história de um oficial de justiça aposentado, Benjamin Espósito, que resolve escrever um livro contando a história de um caso de estupro e assassinato, ao mesmo tempo em que rememora uma paixão mal resolvida. O personagem faz um resgate do que passou, e a trama se desenvolve alternando presente e passado.
É um filme forte, denso, seus diálogos são interessantes e prendem a atenção do telespectador do começo ao fim, como por exemplo, o diálogo em que Espósito, inconformado com o rumo que tomou a sua vida, questiona: “Como se faz para viver uma vida vazia? Como se faz para viver uma vida cheia de “nada”?”
Os atores também são excelentes e a fotografia do filme emprega os efeitos de profundidade de campo, desfoque... sempre dando destaque aos olhos, que dá o título ao filme. Quando os personagens estão calados, os olhares dialogam ‘silenciosamente’.
Particularmente, gosto dos filmes que conseguem unir drama, romance e policial ao mesmo tempo, sem se tornar piegas, previsível ou cair no lugar-comum. E o filme de Campanella faz isso com louvor. Ele alcança êxito também ao incluir elementos do contexto histórico do país ao retratar as ‘safadezas’ do governo. Parabéns aos hermanos, é a segunda vez que a Argentina leva o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Ively Almeida