28 de agosto de 2010

Debates formatados


Os debates eleitorais são uma forma de discutir ideias, contestar razões, examinar prós e contras de um assunto, questionar propostas e principalmente avaliar os candidatos a cargos políticos. Certo? Errado, aqui no Brasil, a forma como são conduzidos os debates não permitem nada disso. As regras são tão rígidas que impedem que aconteça um verdadeiro debate. Os candidatos ficam presos, alguns verdadeiros robôs, apenas recitando o discurso decorado, mais parece uma encenação de novela mexicana, com atores treinados por marqueteiros e assessores passando “fila” em cada intervalo.

No debate com os presidenciáveis que aconteceu na internet, promovido pela Uol e Folha, os internautas puderam fazer perguntas, porém os candidatos tiveram acesso a elas antes do debate, para evitar o fator surpresa, evita-se também o improviso, pois há risco de os candidatos “escorregarem” nas respostas. Ademais, quando o candidato não responde uma pergunta, o jornalista não pode fazer uma réplica, nem questioná-lo. E, no fim, os debates viram discursos inconclusos, apenas com troca de farpas e acusações, sem discussão de propostas e políticas que possam efetivamente mudar alguma coisa nesse país.

A 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira pra o Progresso da Ciência (SBPC), que aconteceu em Natal, em julho desse ano, promoveu um encontro com os candidatos à presidência da República. Longe de ocorrer um debate, para assegurar uma verdadeira democracia, os candidatos compareceram em dias separados. Sendo a SBPC o maior evento de ciência e tecnologia do país, onde participam autoridades e representantes das sociedades cientificas, doutores e gestores do sistema nacional de C&T, estudantes, pesquisadores e o público em geral, nada mais coerente e oportuno que ocorresse também um debate entre os presidenciáveis! Afinal, uma das propostas da SBPC é propiciar um fórum de debates de políticas públicas em C&T. Mas, tamanha transparência e exposição de ideias não são de interesse dos “políticopatas” de Brasília. O candidato do PSDB, José Serra, sequer compareceu ao evento da SBPC, o convite foi recusado, com a desculpa de outros compromissos.

Com candidatos tão parecidos ao cargo de Presidente da República, é necessário identificar os grupos e interesses que eles defendem; investigar contradições; tentar descortinar os véus por trás de discursos ininteligíveis. Que valor terá a democracia se o eleitor não souber votar?! Como não temos outros meios de mudar as coisas, senão pela política, que se há de fazer? É aceitá-la. Do contrário, corre-se o risco de desencantar-se por ela.

Ively Almeida

3 comentários:

Rubem Bezerra disse...

O formato do debate político na TV,ou mídia tinha que ser no estilo que o brasileiro está mais acostumado a ver ou consumir, estilo novela, nós exportamos esse produto de massa ,e de cultura inútil até para Europa, talvez seja por isso que os marqueteiros utilize para vender esse produto tão superficial que é o político brasileiro em debate de televisão. A superficialidade e a mesmice é por sinal a marca da televisão brasileira,talvez a do mundo inteiro. A finalidade da tv é vender produtos criando necessidades supérfluas, e para isso é preciso criar o homem massa supérfluo.
Um público que suporta ver as banalidades das tão repetitivas novelas brasileiras e dos patéticos programas de auditórios brasileiros, a maioria copiados da TV americana, não é de se esperar muita coisa de um debate nessa telinha de entretenimentos fúteis Passione; Silvio Santos; Faustão: 25 anos de contribuição para a cultura brasileira, dito várias vezes pela própria tv Globo. O que podemos esperar dessa vendedora de ilusões, de sonhos tão baratos e efêmeros. Como dizia, e diz Chico Buarque: “Como beber dessa bebida amarga, tragar a dor e engolir a labuta.” “que história infantil meu rapaz essas crianças são velhas demais.´´

George Orwell diz no livro 1984: que em tal data o homem teria apenas alguns centímetros de massa cefálica ,o resto séria alienação, só faltou ele dizer que seria a tv que lhe deixaria esses poucos centímetros de massa cefálica se é que ela pretende deixar alguns, eu tenho que desligar pois “Silvio Santos vem aí...Sílvio santos vem aí...Silvio Santos vem aí.................pra lá pra lá lá lá.......
que musiquinha mais representativa desse imenso “painel de bobagens” que é a tv ,com raríssimas exceções.

Ively Almeida disse...

Segundo notícia publicada no UOL, a coordenação da campanha de Dilma Rousseff, “decidiu reduzir as aparições públicas da candidata para blindá-la de imprevistos.” Como a petista está no melhor momento da campanha eleitoral, isto é: a frente nas pesquisas de intenção de voto, a coordenação quer ‘poupar’ a candidata, trata-se de uma "retirada estratégica" para evitar possíveis percalços e declarações desastradas. Dilma não se sai bem nas falas de improviso, é inarticulada e confusa nos seus discursos.

Marina Silva é a candidata que se expressa melhor, seus discursos são claros e objetivos. Quando esteve na SBPC, emocionou a platéia com o seu discurso, respondeu a todas as perguntas e no final foi aplaudida de pé. (mais os jornais sequer mencionaram esse fato).

Rubem Bezerra disse...

Que moralize a política como um todo em linhas gerais é essa a minha tese do voto nulo.
Karl Marx disse que a democracia burguesa que é representada pelo voto, diz que a liberdade burguesa começa na urna e termina na porta da fábrica. A liberdade de votar é a liberdade que você tem para escolher quem vai te explorar, qual o próximo segmento da elite você quer que te faça de bobo, mas o meu caso é uma saída dentro desse próprio valor burguês: o voto, más tem que haver uma reforma política.
A escolha do grupo dirigente pelo voto surgiu na Grécia antiga, entre as elites como meio pacífico de resolverem seus conflitos de interesses no diálogo, no plenário, isso ajudava a elite se manter unida.. Elite unida jamais será vencida. Parafraseando o velho jargão de esquerda: povo unido jamais será vencido. Não devemos esperar muito do voto, da ‘democracia’ mas é possível se fazer alguma coisa com ela,mas tem que haver a reforma...